terça-feira, 18 de março de 2008

Tibete: um "Teto do mundo" estratégico que Pequim não está disposto a libertar



18/03/2008 - 18h10

PEQUIM, 18 Mar 2008 (AFP) - A China não está disposta a libertar o Tibete, este "Teto do Mundo" estratégico que a permite dominar a Ásia, consideram analistas.

"O Tibete é muito importante para a China tanto estrategicamente como militarmente", explica Andrew Fischer, economista especialista em Tibete do Instituto de Estudos sobre o Desenvolvimento, em Londres.

"Esta importância se explica em termos de segurança nacional, é importante para os chineses permanecer no alto das montanhas, mais do que ter um ponto estratégico que não controlam", acrescenta.

"O Tibete, que sempre serviu de tampão, para britânicos, russos e chineses, serve hoje de plataforma de onde estes últimos monitoram toda a Ásia", disse Anne-Marie Blondeau, pesquisadora do Centro de Documentação sobre o Ar tibetano de Paris.

Para o analista político Joseph Cheng, em Hong Kong, "com um Tibete independente, a China seria muito ameaçada pela Índia e os países ocidentais".

Nesta terça-feira, o primeiro-ministro chinês Wen Jiabao reconheceu que o Tibete era uma questão "sensível" nas relações entra a China e a Índia.

Outras razões podem ser citadas, em particular os recursos naturais. O Tibete é o berço de vários rios da China e do sul da Ásia.

"Há recursos em água consideráveis e, em menor escala, recursos minerais", constata Blondeau.

Para Andrew Fischer, estes recursos minerais não representam ainda uma explicação decisiva.

"Até recentemente, não se podia dizer que era uma explicação, porque eles eram menores que as quantias em prata gastas no Tibete pelos chineses", disse o especialista.

"Há todas estas razões juntas que fazem com que nuncam abram mão do Tibete", conclui Blondeau.

Para Blondeau, existe também uma "questão ideológica".

"A China tem uma questão de princípios. Para os chineses é intolerável que os governos estrangeiros possam se intrometer em seus assuntos internos", considera.

O discurso chinês sobre o Tibete, reivindicando o território como parte da China "desde os tempos antigos", nasceu no século XXI sob a dinastia Qing (1644-1911).

"Foi realmente a partir dos manchus que tiveram consciência política da importância do Tibete" na China, disse Blondeau, revelando que nem as leis nem a moeda chinesas jamais estiveram em vigor no Tibete.

Este discurso será retomado pelo Partido Comunista e por seu adversário, o Kuomintang.

"Era importante para os nacionalistas e os comunistas manterem as fronteiras do império manchu. É por isso que desenvolveram esta retórica nacionalista, segundo a qual a China é composta por cinco nações: os uigurs, os tibetanos, os mongóis, os manchus e os han", explica Fischer.

"Os distúrbios e as manifestações causam certamente constrangimento para Pequim, mas isso não vai fazer com que vacilem no controle do Tibete", assegura Joseph Cheng.

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